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por Luís Biavati

Slide Guitar, uma conversa sobre.

Atualizado: 19 de mar. de 2020


Eu me recordo dos meus primeiros contato com o slide, isso foi em 1986 ou em 1987... Sei lá, já faz muito, muito tempo... Eu era um adolescente e tocava numa banda autoral como guitarrista solo, e como qualquer garoto da minha idade, um amante do Rock and Roll, tentava (muitas vezes sem sucesso), copiar meus heróis e ídolos que extraiam sons fantásticos de suas "guitarras mágicas" e entre esses sons hipnóticos estava o som produzido através do slide. Naqueles saudosos e loucos anos da década de 1980 (em não havia internet, métodos ou mesmo algum amigo ou conhecido que dominasse a técnica do slide para poder dar qualquer tipo de auxílio), era uma tarefa extremamente ingrata e totalmente solitária para um iniciante como eu, na qual muitas vezes, me sentia num terreno infértil como que andando em círculos, (pois nem o mais elementar do slide que é tocá-lo em cima dos trastes e não entre eles, eu sabia). Mesmo com o conhecimento de algumas poucas escalas, como a tão usual pentatônica, eu não possuía a "manha" para extrair do slide um som que me agradasse e por isso o abandonei em um canto de uma gaveta qualquer por muitos anos... Foi somente em 2003 quando passei a fazer parte de uma banda que tocava covers dos Beatles no Rio de Janeiro a "Mr. Kite", que me vi novamente frente a frente com o slide e o seu desafio: ter que "tirar" nota por nota alguns solos feitos com slide, não foi fácil não, mas no final, dei conta e passei a me familiarizar mais com o "bottleneck". Alguns anos depois, passei a integrar em outras duas bandas cariocas: a "Brown Sugar" e "Dark Horse Band"; a primeira de classic rock e a última tocando somente canções do ex-beatle George Harrison, cujo repertório de sua carreira solo é quase todo calcado em slide guitar com dobras de voz, afinações alternativas além se sua técnica extremamente rica e única de tocar. Nessas duas bandas fiz realmente um "intensivo de slide guitar" no qual utilizei vários modelos de metal e vidro além de diversos calibres na busca por um timbre mais “pessoal”. Para minha tristeza, vejo que a maior parte da garotada desconhece o slide, talvez até porque não haja no cenário musical internacional e muito menos ainda no nacional muitos guitarristas que dominem essa técnica, quem sabe... ??? Por isso decidi escrever um pouco do que aprendi ao longo dos anos e passar alguns dicas sobre afinações e também sobre a técnica e truques. Espero que seja útil para você meu amigo e irmão conhecer um pouco mais sobre essa técnica incrível.

Segue um vídeo de uma canção de um fantástico guitarrista que dominava, e muito, a técnica do slide guitar e que é uma fortíssima inspiração para mim, o eterno George Harrison:

Vamos abordar um pouco sobre o que é necessário para você aprender a tocar slide na guitarra de uma forma matadora:

  • Ação das cordas

A "ação das cordas" é como chamamos a altura das cordas em relação ao braço do instrumento e ela não deve ser muito baixa quando você utilizar o slide, pois dessa forma, com cordas muito baixas o slide irá encostar nos trastes fazendo com que o som obtido fique trastejado e quase sem brilho algum. Uma ação de cordas baixa é ótima para guitarristas “fritadores” que tocam escalas ou licks numa velocidade incrível, mas que na grande maioria não possuem uma musicalidade mais coesa na mesma proporção. Para se tocar slide ao contrário, você deve possuir um enorme feeling, isso é "alma da coisa toda" e mais importante do que tocar velozmente e por isso mesmo, seria aconselhável que você eleve um pouco, sem exageros, a ação das cordas para que o slide possa deslizar sem nenhum problema e soar melhor.

  • Qual afinação eu devo usar ?

Existe uma grande variedade de afinações em que a utilização do slide se adequa perfeitamente, como você poderá observar e experimentar para ver qual delas é a mais conveninete para você :

E A D G B E

Essa é a afinação padrão ou (standard tuning) e se você não quiser mudar a afinação pode utilizar ela. Alguns guitarristas, entre eles eu, preferem esta, pois para tocar ao vivo não há muito tempo para experimentações em cima do palco e se você não possuir uma segunda guitarra com uma outra afinação específica apenas para tocar o slide, a afinação padrão é a mais recomendada. Há também algumas variações dessa com a primeira e sextas cordas em Ré:

E A D G B D ou

D A D G B D conhecida como (Drop D tuning)

Outras afinações comuns no blues com slide são as afinações abertas cada uma com uma peculiaridade, portando vamos a elas:

Afinação em em Mi aberto (Open E tuning): E B E G# B E

Já outros guitarristas que tocam com slide preferem usar essas afinações abertas na maioria das vezes. Eles afinam as suas guitarras de modo que possam tocar um acorde maior sem precisar dos dedos. A única coisa que resta a fazer então é deslizar o slide para o traste e acorde corretos. Esta forma é a mesma que, por exemplo, um guitarrista tocando um dedilhado na afinação de Mi (ou qualquer outra afinação aberta) e faz todos os outros acordes maiores usando pestana. Por exemplo, afinando em Mi maior aberto temos (E B E G# B E), nessa afinação quando fazemos uma pestana ou utilizamos um slide no 3º traste por exemplo, temos um acorde de Sol maior, quando tocamos no 5º traste temos um acorde de Lá maior e assim por diante.

Afinação em em Ré aberto (Open D tuning): D A D F# A D, como é fácil de se observar ela é variação da afinação aberta de Mi ( E G E G# B E) estando um tom abaixo o que gera uma sonoridade mais grave em relação à primeira.

Afinação em em Sol aberto (Open G tuning): D G D G B D

Afinação em em Dó aberto (Open C tuning): C G C G C E

Afinação em em Ré com quarta (Dsus4 tuning): D A D G A D

  • Em qual dedo usar o slide ?

Tanto faz. Isso é uma escolha totalmente pessoal e depende de como cada um se sente melhor. Ao usar o dedo 4, deixa-se mais dedos livres para tocar acordes e riffs. Por outro lado, algumas pessoas podem preferir o dedo 2 ou 3 por serem mais firmes. O dedo 1, de todos, é menos comum.

Notação:

Dedo 1 = indicador

Dedo 2 = médio

Dedo 3 = anelar

Dedo 4 = mindinho

  • Como posicionar o slide?

O slide deve encostar a corda bem em cima do traste e paralelo a ele. Você deve pressionar o slide com firmeza contra a corda para não sair aquele som tremido. Mas não deve pressionar com força, pois a corda nunca pode encostar no traste. Na verdade, o slide assume o papel dos trastes, que por sua vez passam a servir apenas para localizá-lo no braço da guitarra.

Obs: se a ação das cordas da sua guitarra estiverem muito baixas (próximas do braço e dos trastes), pode ser necessário mexer na regulagem dela para deixá-las mais altas.

  • Abafar as cordas

Provavelmente, a principal dúvida de alguém que está começando a tocar com slide é "Como faço para cortar todo esse ruído? Parece que tem um monte de notas sobrando e o som não está bom". A resposta é muito simples. Para acabar definitivamente com aqueles sons que aparecem por trás do slide, abafe as cordas. Quem toca com slide abafa as cordas o tempo todo.

Ao ver um vídeo de alguém tocando com um slide, observe que o guitarrista deixa pelo menos um dedo, além do slide, sobre as cordas da guitarra (como na foto acima). É porque ela está usando a mão para impedir que cordas que não estão sendo tocadas vibrem na hora errada.

É preciso abafar tanto com os dedos da mão do slide, quanto com a mão que toca as cordas. Digamos que você esteja usando o slide no dedo 3. Isso quer dizer que você pode usar o dedo 1 e o 2 para abafar as cordas por trás do slide. Eles devem encostar todas as cordas da guitarra paralelamente ao slide, como se eles estivessem fazendo uma pestana, mas sem pressionar as cordas. Apenas abafando-as. Assim, o único som que sairá da guitarra será o das notas que você está "slideando".

É bom também abafar as cordas com a mão que toca as cordas. Para quem toca sem palheta pode ser um pouco mais fácil, você poderá abafar as cordas com os dedos que não estiver utilizando, mas para quem toca com palheta, também não é nenhum mistério. Em ambos os casos, basta encontrar uma posição confortável para abafar as cordas que não estão sendo tocadas, usando os dedos que estiverem livres e as bordas da mão para encostar levemente sobre elas.

  • Vibrato

A diferença entre um iniciante e um guitarrista que já domina o slide é a forma como se toca cada nota. A graça do slide é poder deslizar pelas notas, passando suavemente por todas as notas que estiverem no meio do caminho. Mas não dá para ficar o tempo todo arrastando o slide pra lá e pra cá. É preciso parar nas principais notas do solo. Aquelas que fazem a diferença. A grande sacada, no entanto, é que você não pode parar. Pelo menos não totalmente.

Para extrair aquele som característico do slide, em todas as notas que você parar, você deve executar um vibrato. Ele dará mais vida ao som de cada nota. Dessa forma, tocar guitarra com um slide pode ser visto como uma combinação de deslizadas de uma nota para outra e de vibratos nas principais notas. Tudo que você precisa aprender, após dominar a técnica, é desenvolver o feeling para saber em que notas parar e em que notas deslizar.

Obs: Note que o vibrato com slide é diferente do vibrato normal. Para executar o vibrato com slide basta deslizar para fente e para trás em torno da nota alvo, como se estivesse tremendo a mão. A amplitude dessa oscilação fica à escolha de cada guitarrista, mas geralmente é usada uma oscilação bem pequena.

  • Confie no seu ouvido

Ao tocar guitarra com slide, não se pode confiar totalmente na sua visão. Ao olhar para os trastes para saber se o slide está na posição certa, você pode acabar atingindo a nota errada. Isso ocorre porque o ângulo do olhar pode enganá-lo. A solução é simples: confie nos seus ouvidos e deixe-os guiá-los para as notas certas.

Além disso, o vibrato que você estará executando nas principais notas é uma forma de achar a posição certa do slide, através de pequenos ajustes na posição do vibrato. Não se preocupe em fazer um vibrato perfeito em torno da nota certa, pois é justamente essa pequena imprecisão que que torna único o som do slide.

  • Toque com distorção e sem distorção

Uma coisa ótima para quem gosta de usar slide, é que eles são agradáveis tanto com sons limpos quanto com distorcidos.

Além da distorção, efeitos como Delay e Reverb também são muito bem vindos. Eles proporcionam sons psicodélicos e viajantes que guitarristas como David Gilmour, do Pink Floyd, adoram explorar.

  • Slide de Vidro vs. Slide de Metal

São os dois principais tipos de slide; o de vidro e o de metal. Os dois são baratos, então pode ser interessante comprar os dois para ver qual você gosta mais. Os dois deslizam da mesma forma sobre as cordas, mas os timbres são diferentes. Geralmente, usa-se mais o slide de vidro (do tipo Pyrex) para tocar guitarra e o slide de metal para tocar violões com cordas de aço. Mas não há nenhuma regra. O slide de vidro tem um timbre mais suave. O slide de metal fornece sons mais estridentes e pode gerar um pouco mais de ruído.

Se você tem medo que o slide de vidro quebre facilmente, não se preocupe. Ele é mais resistente do que parece, pois não é exatamente o mesmo tipo de vidro de um copo, por exemplo.

A vantagem do slide de metal é que ele dá maior sustain. A desvantagem é que ele pode enferrujar por dentro com o tempo.

* Existem também slides de plástico e de porcelana, mas quase ninguém usa. O de porcelana é pouco comercializado devido ao seu preço ser um pouco mais caro e o de plástico definitivamente não é recomendável.

  • Como treinar?

Com um slide na mão você pode tirar os sons mais loucos da guitarra. Mas até chegar lá você precisa dominar a técnica. Para treinar, faça exercícios simples. Treine em uma corda de cada vez.

Exercício: Escolha uma corda, comece no primeiro traste e tente fazer a nota soar nítida, sempre usando o vibrato. Em seguida, deslize até o segundo traste e execute outro vibrato em torno dele. Vá fazendo isso até chegar no último traste. Após terminar essa corda, faça o mesmo nas outras. Isso é preciso, porque cada corda requer um sensibilidade diferente com o slide.

Depois de aprender a executar o vibrato com slide e conseguir fazer cada nota soar com perfeição, chegou a hora de treinar algo mais avançado (e interessante). Tocar slide muitas vezes requer alta precisão. E é isso que você treinará agora.

Exercício: Toque uma nota com o slide e deslize-o até uma outra nota que esteja bem longe do ponto de partida. O objetivo é treinar sua mira, para que, quando você estiver solando, não precise se preocupar com acertar as notas certas, mesmo em velocidades elevadas. Repita o exercício com diferentes combinações de notas e em cada uma das 6 cordas.

Além de "tirar" melodias e executá-las na guitarra com o slide, esse diga-se de passagem, é um ótimo exercício para um domínio mais rápido dessa espetacular técnica de guitarra.

E para finalizar esse tema por ora, dois vídeos: o primeiro de um guitarrista que é um grande amigo meu e que domina essa técnica do slide guitar como poucos na afinação padrão Don Morcego e o segundo vídeo aborda a afinação aberta em Mi. Esse segundo vídeo está em inglês e mesmo que você não seja fera em compreender o idioma, tem uns licks muito legais para você treinar, pois independente de ser noutro idioma, todos nós falamos a linguagem universal da música.


Namastê

Fontes de pesquisa:

Don Morcego e www.guitarcoast.com

Foto: Demétrio Aguiar

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